“Olho e sou visto, logo existo!” Winnicott 1r2s32
“Tudo vale a pena se a alma não é pequena.”
Fernando Pessoa
Vou falar hoje de independência ou morte, de algemas partidas, pois laço jamais é prisão. “Ninho” é uma metáfora linda e poética sobre o lar. Em tese, é o refúgio que ampara, abriga, acolhe, protege, favorece, provê e contém. Dizem até que é o descanso do guerreiro. “Vazio” ressalta o mérito do mesmo em dever cumprido. Deduzo que as aves prontas já se foram, então, missão cumprida. Alçaram voo à aventura de conquistar o encantador, divertido e imenso mundo. Belo e triste. Liberdade. Vida (Ouça como a palavra soa). Assim, são os filhos... Viva! Ufa! Alívio aos pais, finalmente tempo para mim...
Você já viu pássaros voando abraçadinhos? Grudados podem bater asas? Impossível. Crescimento, desenvolvimento e maturidade são intrínsecos à separação, autonomização, individuação e reconhecimento das diferenças. Nossos filhos, cada um em seu tempo e ritmo próprio, amadurecem. Graças a Deus, voam livres rumo ao seu destino. Diz o poeta que eles moram lá na casa do amanhã onde não iremos habitar nem em sonhos. Que bom! Que eles nos superem em tudo. Torço para que construam uma vida significativa e plena em sentido. Vantagem afetiva é que não nos abandonam nunca no bem querer. Diferente dos pássaros nós humanos possuímos vínculos. Sempre que a saudade bate eles retornam barulhentos ao aconchego para trocar novidades. Reabastecem a pilha afetiva e novamente lá se vão. Ainda, há vezes que nos surpreendem e nos brindam em gratidão. Ocasionalmente podem até virem carinhosamente para cuidar, mas sem serem escravos do amor. Ora eventualmente, se necessário, feridos voltam para serem cuidados. Afinal, no ciclo da vida perda implica na sucessão em ganhos. Há sempre troca nas relações e entre as gerações não é diferente. Portanto, ultraamos etapas para conquistar degraus evolutivos. Aliás, somos mantidos sempre bem vivos dentro das cavernas das lembranças e da saudade dos que amamos e que nos amam mesmo depois de nossa morte. Sabia que os elos da ligação emocional são invisíveis e muito mais resistentes do que imaginamos? Sobrevivem a nós. Acorda! Distância, ausência e o tempo não destrói a eterna solda do amor.
Agora vamos falar de patologia. “Síndrome”, em medicina, remete à doença. Sinais e sintomas delatam sofrimento. “Síndrome do Ninho Vazio” conta da dor mental de muitos pais, predominantemente mulheres, que não lidam de forma serena com esta fase normal da vida. Pode coincidir o agravo do padecer pela menopausa, aposentadoria e envelhecimento. Desta forma, o ciclo natural da vida, pela exacerbação da angústia de separação, poderá ser vivenciado com sentimentos de intensa nostalgia, tristeza excessiva, abandono, insegurança, esvaziamento, inutilidade, luto, desamparo, desespero e solidão. Existencialmente a pessoa se prende ao leite que ferveu e derramou não se dando conta do que ainda sobrou na leiteira. Afinal, não se atenta que ainda dá pra fazer do resto uma ótima coalhada ou até um saboroso doce de leite. Como toda mudança na vida requer rituais de agem, flexibilidade e adaptação ao novo. Isto exige resiliência psíquica. Vemos aqui que a estrutura de personalidade rachou e expôs a vulnerabilidade defensiva do indivíduo. Explico. Freud, em 1926, já dizia que quando a angústia de separação é excessiva, é vivida como um temor trágico de se ver só e abandonado, fonte primeira de dor psíquica e de sentimento de luto. A dinâmica mental não ou a exigência imposta pelo desconhecido da quebra da rotina e ausência do convívio cotidiano com a pessoa querida desvelando a fragilidade dos alicerces do próprio eu. Assim, é denunciada a dificuldade particular em lidar com separação e perdas. Qual a saída? Abra os olhos do coração. É chegado o tempo de despertar! Necessário é aproveitar mais esta chance que a vida oferece e com determinação agarrar a oportunidade de investir em si mesmo e fazer a sua vida valer a pena. O maior desejo do ser humano é ser compreendido e ninho vazio é sonho de liberdade.
Dicas do Especialista ou Como Enfrentar a Síndrome
“O que significa ‘cativar’?
É uma coisa muito esquecida, diz a raposa.
Significa ‘criar laços...’
... Só se vê bem com o coração.
O essencial é invisível para os olhos”
Antoine de Saint.Exupéry
Eliane Pereira Lima
Psicóloga - Psicanalista
CRP 06/43457-
Crianças - adolescentes – adultos
Fonte: Brasil Escola - /psicologia/sindrome-ninho-vazio-nunca-mais.htm